A casa de Bernarda Alba - Pôncia

Assim que terminamos de encenar Maldito Sejas, começamos um semestre como módulo IV novamente.

O módulo IV era o fechamento do curso, dali era só se jogar no mundo. Mas, eu ainda bastante insegura quanto a saber andar sozinha e fazer boas escolhas, decidi repetir o módulo. Mas, não foi como eu pensei. 

Em Maldito Sejas, a turma era pequena e eu já estava de certa forma acostumada com aquelas pessoas que já estavam caminhando comigo desde o módulo II. Desta vez apareceram duas pessoas que me deixaram bem com o pé atrás. Não por motivos ruins, mas porque já as tinha visto em outros trabalhos nos teatros de Salvador, e achava aquelas duas mulheres muito boas atrizes. Foi assim que entrou na minha vida Maria Antonia Bandeira e Anna Landgraf. Ao grupo se incorporaram também Juliana Leonesy, Naiara Auberginy, Yolanda Costa, Patricia Garrido, Roberta Rezende. Todas ótimas atrizes. Permaneceram Mary Jane, Márcia Maria, Fátima Barreiros. Ali conheci também uma atriz que trabalharia comigo no espetáculo que veio depois, Viviane Fraga.


É isto mesmo... não havia um ator na turma. E agora? O que fazer? Um texto só com mulheres e muitas mulheres. Só poderia sair A Casa de Bernarda Alba! Mas, a dúvida era se estávamos preparadas para fazer um texto tão denso e tão clássico.

Fizemos! E foi uma experiência e tanto para mim.



                                                                                              
  






Primeiro desafio: me desapegar da meninice da jovem Terê e me vestir com o corpo de Pôncia, mulher de seus sessenta anos. Como apanhei no inicio para fazer esta transição.

Neste trabalho foram feitos muitos intrumentais para trazer ao nosso ambiente a opressão, a falta de ar e de dias melhores. Músicas espanholas, salas em penumbra... aquelas músicas davam um tom capaz de trazer realmente alguns sentimentos de solidão, luto e opressão. E deu certo.

Eu estava com o texto muito marcado, sem entonação. Cuspindo texto para todo lado, e, consequentemente levando bronca do diretor. E como detesto ouvir "não está bom". Até que um dia, quando chegou minha primeira cena, eu resolvi colocar um pouco de raiva e mágoa na voz, e ficou muito bom. Daquele sentimento liberado consegui fazer nascer a minha Pôncia.

Mesmo assim ainda faltava levar este sentimento pelo resto da peça e não apenas na primeira cena. Complicou. Eu entrava e saia do personagem como um raio. Eu não conseguia sentir Pôncia fora da sua primeira cena. Até que um dia tive uma experiência estranha no banheiro do meu emprego oficial. Estava eu lavando o rosto no meio da tarde e repassando os textos. Aí quando olhei no espelho eu vi Pôncia! Olhar, postura, rosto velho. Foi bem estranho mesmo. 

A partir deste acontecimento, toda vez que eu ia ao ensaio, levava aquela mulher do espelho dentro de mim. E assim consegui segurá-la sempre. O texto grande foi outro desafio, porque algumas frases pareciam se repetir em algumas cenas. Dava uma confusão danada na minha cabeça. Até que ficou automático e tudo fluiu. Os ensaios para mim já não eram mais estressantes e passaram a serem prazeirosos.


No dia da estreia, tivemos que ajustar alguns movimentos com a luz e música... era o trocar de roupa/aspecto em poucos mais de 5 segundos. Entrar, cruzar o palco, encontrar a nossa cadeira no escuro e sem erro, já que a luz abria em foco nos lugares onde deveríamos estar. Ali, sim foi estressante, porque eu demoro para gravar comando. Mas, foi! Tudo transcorreu bem. E até hoje tem que pergunte se vamos remontar. E olha que já tem quatro anos que estreamos. Seria bom remontar. Mudaria algumas coisa no meu jeito de fazer Pôncia. Colocaria um pouco mais de pimenta e aprimoraria a dicção.

Gosto sempre de assistir aos videos depois, pois nesta hora eu vejo quanta coisa ainda dá para melhorar. No making of então! Vi que eu preciso aprender a falar e defender meu personagem. Mas, para quem não abria a boca mesmo que estivesse morrendo, estou até legalzinha. 



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