Maldito Sejas: 1º espetáculo - Terê

2010 foi meu batismo no palco. Para escolher o texto a ser trabalhado, pesquisamos bastante, lemos muitos durante os encontros no Vanacontramão, até que o nosso professor-diretor nos apresentou um texto espanhol: ¡Maldito seas! 
Nosso grupo era pequeno, apenas seis pessoas. Eu, Mary Jane, Rita Catarina, Márcia Maria, Maria de Fátima e José Antônio. Com apenas um homem no elenco, estava difícil encontrar um texto. Maldito Sejas, apesar de ter seis personagens, dois deles eram masculinos.

Então, um dos personagens masculinos teria que ser adaptado para uma mulher ou uma atriz faria papel de homem. Xiiiiii...

No encontro seguinte à leitura e aprovação, o diretor nos informou qual personagem cada um faria. E para meu desgosto fiquei com a Terê, personagem que eu nem tinha tomando muito conhecimento, queria mesmo era ser a deficiente física ou sua irmã. Mas, enfim... lá fui eu estudar quem seria aquela mulher-menina, bem mais jovem que eu.

Foi uma personagem muito complicada. Ela era muito atirada, muito solta e liberal, bem diferente de mim na época. Fumava!!! 

Foram muitos, mas muitos ensaios mesmo e nada de conseguir a embocadura da personagem. Estava me desanimando. E pensava com meus botões que a profissão não era para mim. E quando vi meus colegas avançando nas suas representações, pior eu ficava. Ao invés de me soltar e experimentar, eu ficava cada vez mais dura.

O diretor chegou um dia para mim e me deu uma tarefa: adaptar as falas da personagem a uma linguagem bem informal e cheia de gírias. 

Caraca! Gírias, moleque? Eu só sei falar palavrão, gíria é difícil. Mas, lá fui eu no falecido ORKUT. Tinha uma comunidade de gírias e seus significados. Batata! Mudei tudo. E não é que Terê nasceu. Mudou as falas, mudaram as atitudes, jeito de andar, sentar, falar.  

Apresentei a nova linguagem dela em pleno ensaio, os demais não sabiam como eu falaria, nem o diretor. E foi muito bom. Todo mundo rindo das doideiras que ela falava. E então eu percebi como a Terê se sentia perante os demais personagens: incompreendida por ser avançada demais para aquelas pessoas que vivem uma vida tãooo sem graça e sacrificada.

Neste módulo, tive muito apoio dos colegas de elenco que depois se transformaram em meus amigos fora do palco. Lembro que ensaiávamos praticamente em todos os finais de semana em um espaço de ioga que tinha na casa da mãe de Márcia. Era sacrificante, pois todos nós erámos trabalhadores formais, com horários fixos a cumprir nos nossos empregos. Mas, o clima era tão gostoso que a gente superou bem. E a eles agradeço imensamente. Nada de pressão, nada de mal humor, nada de competição. Um pequeno grande grupo liderados por um diretor excepcional.

Entrar no palco pela primeira vez... puxa, pensei que fosse desmaiar, ao se aproximar minha cena, minha boca secou tanto que achei que não conseguiria falar, as vistas escureceram, o sangue fugiu. Mas ao ver da coxia meus colegas, ouvir suas frases antes da minha deixa, me tranquilizou. E acabou que deu tudo certo. Pena que foram apenas duas apresentações. O retorno do público foi muito bom, e até hoje, passados cinco anos ainda pensamos em fazer esta peça voltar, agora com mais know how.



No vídeo abaixo, um trechinho do nosso reconhecimento do espaço e preparação duas horas antes de entrar no palco. No youtube, tem o vídeo com todos os personagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário